terça-feira, 30 de agosto de 2011

Ninguém é perfeito

Garganta seca, lábios quase rachando e um sol pra cada corredor. O único líquido que existe no seu corpo é o suor. Mas eis que surge um oásis logo à frente. Você se aproxima e recebe das mãos de um sorridente voluntário um copo do líquido que, nesse momento, mais do que nunca, representa a sua sobrevivência. Num gesto brusco, rasgamos o lacre e tomamos aquela golada de água QUENTE!

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Desde antes de pensar em correr eu já queria participar da São Silvestre. Finalmente meu sonho se realizaria e o primeiro passo seria a retirada do kit. Ser rápido é o objetivo da maioria dos corredores, mas receber a medalha antes do tiro de largada é demais, né? Pois o símbolo máximo da sua conquista e superação estava dentro da sacolinha do kit pré-prova. Ao recebê-la, derramei lágrimas ao invés de suor.

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Você planeja sua corrida, define em quanto tempo pretende correr cada quilômetro. A prova começa e tudo vai indo bem, até que você percebe que a placa do km 5 está demorando a chegar. “Devo estar lento”, é a sua conclusão e acelera as passadas. De repente, ao invés da placa esperada é a do km 6 que surge ao seu lado. A placa do 5º quilômetro simplesmente NÃO foi colocada.

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Assim como os seus praticantes, a corrida também tem seus defeitos. Deve ser por isso que a gente se identifica tanto com ela.

Let’s keep running!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Crise de abstinência

Quem nunca ficou na secura por um gole de cerveja, vinho ou qualquer outro fluido alcoólico enquanto estava tomando algum tipo de medicamento que atire a primeira garrafa.

Estava me sentindo assim de meados de junho até meados de julho, quando uma inflamação na região do joelho me afastou da corrida. Nem um mísero e inofensivo trote. Tinha que me manter tão longe das pistas quanto um motorista embriagado das ruas.

É incrível como a sensação de dependência, nesse caso saudável, mexe com a gente. Fiquei irritado, mal humorado e dormia pessimamente. Nem o fato de acordar tarde no final de semana recompensava a sensação do condicionamento físico descendo ladeira abaixo. 

Quando via o pessoal correndo nas ruas, parques e academias, não disfarçava minha tristeza. Até mesmo os sites e as revistas eu deixei de ler para evitar lamentações.

Ao subir na esteira pela primeira vez após o tratamento, quase chorei. Primeiro de alegria e alguns minutos depois de decepção por perceber que estava longe do ritmo de antes.

Teria que correr atrás do tempo perdido, literalmente. Meu tempo de inatividade me fez regredir alguns passos na preparação para a meia maratona. Mas pelo menos estava de volta. Por isso, termino este post com um brinde ao vício mais saudável do mundo.

Let’s keep running!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Diga sim à endorfina

Parece mágica. De um estado de exaustão avançado somos tomados por uma sensação de bem-estar fantástica.

Sem seringas ou qualquer ingestão química. Para chegar a esse nível de satisfação física e espiritual basta... correr.

Liberada pelo cérebro, a endorfina é a primeira recompensa pelo nosso esforço, e quanto maior ele for, maior também será nosso prazer na corrida.

Mas para chegar até ela não é fácil. Nos primeiros dois quilômetros dos meus treinos de 10K, tenho que lutar contra a preguiça do meu corpo, que insiste em me lembrar da minha cama. “O que eu estou fazendo aqui a essa hora da manhã e não dormindo” é a única coisa que o meu cérebro produz.

Nos próximos três quilômetros vou administrando a busca pelo ritmo perfeito e a sede que vem em nosso encalço.

Quando o cansaço me alcança, lá pelo quilômetro sete, eis que ela aparece. Como o amor da sua vida que surge, deslumbrante, depois de horas esperando ela se arrumar; como aquele apetitoso prato servido pelo garçom que a dieta há tempos afastou da sua mesa; como o “sim” daquela garota do colégio que insistia em te dar o fora, a endorfina se apresenta e faz tudo valer a pena.

A partir daí, o seu corpo assume a velocidade de cruzeiro e você completa o treino ou a corrida cheio de disposição, com um sorriso no rosto e com a certeza de que poderia fazer mais.

Pois é, galera, endorfina não é droga. Pratique!

Let’s keep running!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Havia um rock no meio do caminho, no meio do caminho havia um rock

7 de maio de 2011. Meu aniversário, minha primeira prova noturna e temperatura baixa. Tinha certeza que a Fila Night Run me presentearia com um tempo abaixo dos 50 minutos nos 10 km.

Só não contava com o presente preparado pela organização da prova: show ao vivo do Ultraje a Rigor.

Adepto da filosofia “sexo, endorfina e rock’n’roll”, acompanhei a primeira parte da apresentação da banda até o último acorde. Quando lembrei da corrida, 97,82% dos competidores já estavam alinhados para a largada e me senti um piloto de F1 que sai na última fila do grid.

Como os primeiros metros eram bastante estreitos, fiquei várias vezes “encaixotado” entre os corredores mais lentos e fiz o primeiro quilômetro quase dois minutos acima do planejado. Uma tragédia.

Mas não desisti, forcei o ritmo no restante da prova e cruzei o pórtico de chegada com 50 minutos e 18 segundos. Por 19 desgraçados segundos fiquei sem o presente de aniversário que tinha me prometido.

Se o Roger estivesse cantando “inútil, a gente somos inútil”, teria sido a trilha perfeita para o momento. Mas a música era outra e logo me esqueci desse pequeno fracasso. Corri novamente pra frente do palco.

Outro show grátis do Ultraje a Rigor é muito mais difícil do que alcançar essa meta.

Let’s keep running!

A primeira vez a gente nunca esquece



Finalmente o grande dia havia chegado. Na manhã do último domingo de outubro de 2009 minha namorada e eu estrearíamos nas pistas com os 5 Km da Alphaville Running.

Ansioso, meu sono foi estilo tele-sena do Silvio Santos: de hora em hora acordava achando estar atrasado. Quando o despertador tocou pra valer, parecia o tiro de largada. Levantamos como um foguete, nos trocamos e tomamos um café rapidinho. Se tivéssemos cronometrado tudo isso, teríamos batido o recorde mundial de preparação pré-corrida.

Antes, passamos em um posto de gasolina para encontrar a Rosa, que vinha de São Paulo correr com a gente. Claro que ela não faltaria nesse momento tão importante.

No local da corrida, como bebês descobrindo o mundo à sua volta, acompanhávamos as assessorias esportivas montando suas barracas e o staff correndo pra cima e pra baixo montando tábuas de frutas e distribuindo garrafas de água nos postos de hidratação.

Sempre seguindo a líder, pegamos o número de peito e o chip de cronometragem. Claro que me espetei com os alfinetes que prendem o número na camiseta e tive certa dificuldade para colocar o chip no cadarço do tênis, mas consegui. Depois de uma sessão de aquecimento, largamos.

Na semana anterior tinha definido meu plano de corrida: começar devagar e não me empolgar tentando acompanhar os corredores mais rápidos. Claro que fiz tudo errado. Saí desembestado e até fiz um bom primeiro quilômetro. Graças à sabedoria dos ingênuos achei que conseguiria manter o ritmo até o fim, mas no quilômetro três meu corpo já estava resmungando. A partir de então, até as lombadas da rua ficavam difíceis de transpor. Resultado: terminei me arrastando e com o tempo acima dos 27 minutos.

Mas quando cruzei o pórtico vi o outro lado da corrida. Pra começar, o animador da prova me parabenizou e disse meu nome no microfone. “Uau”, (imagine as cenas do comercial do novo Renault Sandero). Em seguida, o pessoal da equipe médica correu até mim para saber se estava tudo bem. “Uau” de novo. Mais alguns passos e um copinho de Gatorade acompanhado de frutas. Só não mandei um novo “Uau” porque já estava de boca cheia.

Com o fôlego renovado e a energia reposta fui aguardar as meninas para pegarmos nossas merecidas medalhas. Foi legal acompanhar de perto a estrutura do evento e saber quantas pessoas estão envolvidas preparando tudo para você chegar lá e correr.

Assim como nos relacionamentos, a corrida fica ainda mais bonita quando a conhecemos por dentro.

Let’s keep running!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Não deixe para amanhã a prova que você pode correr hoje


Seis meses. Esse foi o tempo entre o meu torturante primeiro treino e a estreia em provas. Adiei o máximo que pude a minha primeira vez.

Achava que iria encontrar um clima hostil, de extrema competitividade. Fora outras neuras como “Será que vou conseguir terminar?”; “Vou ser o último?”; “Onde vou estacionar o carro?”.

Igual ao jovem que é pressionado a decidir o que estudar na faculdade, me senti obrigado a escolher uma corrida.

A Rosa, sempre ela, me indicava as melhores provas e resolvi me inscrever na Alphaville Running, que aconteceria em outubro de 2009. Finalmente enfrentaria meus fantasmas corredores.

Como um prêmio pela minha coragem, a Rosa me deu a dica final que faria toda a diferença na minha decisão: “Seria legal você acompanhar uma corrida antes”.

Em setembro houve uma edição da mesma prova e a Fátima foi comigo assistir. Ficamos aguardando os vencedores ao lado de moças com cães na coleira, crianças no colo das mães e adolescentes segurando máquinas fotográficas.

De repente surgem uns magrelos a la quenianos cruzando nas primeiras colocações. Para mim tudo normal, nada demais. Nem um piu da torcida. “É só isso?”, pensei.

Mas o melhor estava por vir. O momento em que a corrida me cativou foi quando os reles mortais, como você e eu, começaram a chegar. Foi aí que os espectadores se manifestaram, gritando o nome dos seus ídolos. Gordinhos, esbeltos, mulheres, idosos, pais, filhos e amigos misturados na massa que se aproximava.

Treinadores com uniformes personalizados surgiam no meio da pista incentivando seus pupilos com a mesma intensidade que davam força aos que não faziam parte da equipe.

Minha namorada e eu ficamos hipnotizados. Cada pessoa que cruzava o pórtico parecia ser a primeira a chegar, tal era a festa e emoção. Todos a cumprimentavam.

Então vi o adolescente fotografando a mãe que exibia orgulhosa a sua medalha. Pensei qual teria sido sua preparação para desfrutar desse momento. A criancinha pedia colo ao pai, que muitas vezes deixou de assistir Backyardigans ao seu lado para ir treinar. E tinha o garotão suado que ao invés do beijo da princesa, recebeu aquela lambida do cachorro da namorada. Confraternização total.

Depois de quase meio ano enrolando, desejei que a minha corrida fosse no dia seguinte.

Let’s keep running!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Primeiros passos

Depois de 3 torções de joelho e uma cirurgia, troquei de esporte. Como diz meu amigo Everton, “Futebol tem tudo pra dar errado”. Trombadas, pontapés, boladas e, ainda por cima, duas traves de ferro.

Mas antes de migrar para a corrida, provei do sedentarismo. Resultado: pança crescendo, bem-estar diminuindo. O sinal de alerta acendeu quando me deparei com a escada rolante do metrô enguiçada. Depois de superar com dificuldade alguns degraus, concluí, ofegante, que alguma coisa deveria ser feita.

Contei a situação pra minha amiga Rosa e ela foi categórica: “Comece a correr”. Agradeci o conselho, mas pensei, “Não sei, correr cansa”.

Como incentivo, ela me apresentou diversos sites sobre corrida. Webrun, O2, Yescom, Corpore, Iguana Sports entre outros passaram a fazer parte dos meus favoritos na internet. Nesse ínterim, foi lançada a revista Runner’s Brasil. Comprei, li e gostei.

Agora era só colocar a teoria em prática. E lá fomos minha namorada Fátima e eu para uma pista de Alphaville. Partimos e... decepção total. Com menos de 200 metros já estava morrendo e com o coração disparado como se dissesse “tá louco, tá louco, tá louco...”. E o que é pior, a Fátima continuou correndo numa boa!

Novamente recorri ao meu oráculo das corridas, a Rosa. Ela me passou umas planilhas para iniciantes. Corre um pouco, anda muito, corre mais um pouco, se arrasta outro tanto, caminha e pronto. Tudo ficou mais fácil.

Achava que nunca encontraria prazer em outro esporte senão no futebol. Qual seria a graça em ficar correndo por aí?

Mas descobri que o desafio da corrida é outro e a recompensa muito mais gratificante, pois é uma conquista sua. Não encontraria isso enfrentando o mais encardido dos times. Agora sou eu contra eu mesmo e o tempo. Quer adversários mais difíceis do que esses?

Let’s keep running!

P.S. Meus agradecimentos especiais à Rosa e à Runner’s World Brasil. Graças a eles, escada rolante quebrada não é mais problema para mim.

domingo, 14 de agosto de 2011

A largada

Percebi que começar um blog é igual a começar a correr: difícil dar o primeiro passo.

 “De amanhã não passa” logo se transforma em “Deixa pra segunda-feira”. E também tem as clássicas “Tá frio”, “Tá chovendo”, “Tô sem tempo”.

Temos sempre na ponta da língua a desculpa para continuarmos dormindo ou nem chegarmos perto do computador.

Mas agora vai, acabo de dar a largada no blog Palavras Corridas. Exatamente como fiz em abril de 2009, quando dei um sprint na coragem e comecei a correr.

Na época, era só uma maneira de praticar alguma atividade. Não imaginava que a corrida fosse cair na corrente sanguínea e se transformar em um vício.

Hoje, o sangue que corre em minhas veias é a motivação para ir mais longe. Pois pode acreditar, se hoje você não consegue correr nem 500 metros, daqui a algum tempo vai estar planejando sua primeira maratona.

E amigo(a), esses planos vão dar outro sentido pra sua vida. Afinal, a corrida não faz bem só para o corpo, ela deixa sua mente em forma.

E como aprendi que as coisas boas devem ser compartilhadas, criei esse espaço para mostrar o quanto correr me faz bem e, quem sabe, incentivar outras pessoas a experimentarem essa sensação.

Bom, acho que esse post já está se transformando em um “longão”.

Para encerrar, espero que o prazer de publicar aqui seja tão grande quanto pela corrida.

Até a próxima.

Let’s keep running!